11 de novembro de 2010 - quinta-feira

CORAÇÃO, CARTA, LIVRO, PÁSSAROS, LÍRIOS
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O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
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Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer
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Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!
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Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
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Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
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Fernando Pessoa

Um comentário:

Gilceia disse...

O mais legal das cartas vinculadas como o poema do Pessoa: quando quer dizer coisas que não pode ser ditas mas são sentidas ao longe,estão a olhos vistos, como Quintana:"o óculos no nariz do avozonho.Sempre lindamente.Beijos *encantada